O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, criticou nesta segunda-feira (15) operações policiais marcadas por alta letalidade e defendeu uma revisão das estratégias de enfrentamento ao crime organizado no Rio de Janeiro.
Sem mencionar nominalmente autoridades estaduais, Rodrigues afirmou que ações baseadas apenas no confronto armado produzem impacto imediato, mas não resultam em controle duradouro dos territórios dominados por facções.
“Não é razoável fazer uma ação onde se entre num lugar, mate 10, 20, 100 e no outro dia ter 10, 20, 100 ocupando o mesmo lugar”, disse. Segundo ele, o uso recorrente desse modelo evidencia um problema estrutural na política de segurança pública, ao priorizar resultados de curto prazo sem desarticular as bases econômicas e de comando das organizações criminosas.
A fala ocorre no contexto da megaoperação realizada neste ano nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, considerada a mais letal da história do estado. A ação, que mobilizou milhares de policiais civis e militares, terminou com mais de uma centena de mortos, entre suspeitos e agentes de segurança, e provocou forte reação de entidades de direitos humanos, além de questionamentos sobre sua eficácia.
Para Rodrigues, operações desse porte acabam reforçando um ciclo de violência que se retroalimenta. Mesmo após incursões de grande escala, grupos armados retomam rapidamente o controle das áreas, mantendo intactas as estruturas que sustentam o crime organizado. “Quando não há continuidade e investigação, o território é reocupado e o resultado prático é mínimo”, afirmou.
O diretor-geral da PF defendeu que o foco do combate ao crime organizado deve estar nas lideranças, nos financiadores e nos esquemas de lavagem de dinheiro, e não apenas nos executores armados que atuam nas comunidades. Na avaliação dele, a ausência desse direcionamento contribui para a repetição de operações letais com pouco efeito estrutural.
Embora a segurança pública seja atribuição constitucional dos estados, Rodrigues tem defendido maior integração entre forças federais e estaduais, com uso intensivo de inteligência, cooperação institucional e investigação financeira. A crítica, segundo interlocutores, busca marcar uma diferença em relação a modelos centrados exclusivamente no confronto armado.
A megaoperação deste ano reacendeu o debate sobre os limites do uso da força policial no Rio de Janeiro, estado historicamente marcado por ações de alto impacto e resultados controversos. Enquanto o governo estadual sustenta que a ofensiva representou um duro golpe contra o crime, especialistas apontam que o retorno rápido das facções às áreas atingidas reforça o argumento de que ações pontuais, ainda que letais, não substituem políticas de longo prazo.