
Uma escalada de violência tem transformado garimpos ilegais no Centro-Oeste do Brasil em um cenário de guerra, com facções criminosas, como o Comando Vermelho, exibindo poder de fogo pesado e desafiando as autoridades.
A criminalidade atinge produtores rurais e a população local, com registros de assassinatos e ataques. A reportagem mostrou que o ouro extraído ilegalmente abastece joalherias no Brasil e no exterior, criando um ciclo de violência que se estende das florestas até as grandes cidades. A reportagem acompanhou as ações da Polícia Federal em Conquista D'Oeste e Pontes e Lacerda, no Mato Grosso, onde garimpos clandestinos devastam a floresta e terras indígenas.
Segundo o delegado da PF Rodrigo Vitorino Aguiar, o comércio do ouro ilegal é feito para joalherias que "esquentam" o metal ao fabricar joias. O metal ilícito chega ao estado de São Paulo e, a partir daí, "ganha o mundo".
Em Boa Vista, Roraima, o produtor Leandro Sant'Ana, com uma câmera escondida, filmou ouro ilegal de países vizinhos sendo vendido livremente, sem controle. Em uma loja, um ourives produz um par de alianças a partir de um pequeno pedaço de ouro em 20 minutos.
A explosão da violência está ligada ao aumento recorde do preço do ouro no mercado internacional, que fez com que o crime organizado apostasse no contrabando do metal como uma fonte lucrativa.
Violência no garimpo se assemelha à guerra entre cartéis mexicanos
O delegado Rodrigo Vitorino Aguiar afirma que os garimpos se tornaram um lugar perigoso, com confrontos entre os garimpeiros e facções que "cresceram o olho" sobre o dinheiro movimentado na região. As facções passaram a oferecer segurança aos garimpeiros e, em seguida, tornaram a atividade um negócio próprio.
Em Pontes e Lacerda, o delegado regional João Paulo Berté explica que o número de homicídios explodiu após o Comando Vermelho dominar a área do garimpo Cururu, na Terra Indígena Sararé.
Desde 2023, mais de 60 homicídios foram registrados dentro ou no entorno do garimpo. Berté compara a situação local ao que acontece no México, com violência extrema, corpos decapitados e veículos metralhados.
A violência colocou em risco até as autoridades. Agentes do Ibama alertaram a equipe de reportagem sobre o perigo e mostraram um fuzil 556, uma arma de guerra, encontrado recentemente na região. Um vaqueiro, morador local, relatou ter levado a família embora devido ao medo. Produtores rurais têm sofrido roubos, invasões e destruição de suas propriedades, com cercas e gado danificados, além de áreas desmatadas e derramamento de combustível causados pela atividade ilegal.
Em uma operação da Polícia Federal, a equipe avistou um acampamento e um barco em movimento no rio Sararé, indicando atividade ilegal. Segundo a reportagem, a presença de policiais fez com que os garimpeiros evitassem o trabalho na área. A equipe tentou negociar uma entrevista com os garimpeiros, que, em áudio, demonstraram ter um forte armamento, incluindo quatro fuzis. Depois, recuaram e disseram que era uma brincadeira, sem aceitar o pedido.
Um vídeo obtido pela reportagem mostra um criminoso efetuando disparos de uma .50, arma capaz de derrubar aeronaves. No início do mês, um homem morreu e outros ficaram feridos após criminosos confundirem uma caminhonete com um carro de policiais e atirarem com fuzis e pistolas.