Filha da cantora Eliane de Grammont e do cantor Lindomar Castilho, a coreógrafa Lili Grammont publicou neste sábado (20) um longo texto nas redes sociais após a morte do pai. Conhecido como o “Rei do Bolero”, Lindomar morreu aos 85 anos. A causa da morte não foi divulgada.
Na publicação, Lili reflete sobre finitude, perdão, dor e humanidade, sem apagar o passado marcado por violência. “Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito, ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida”, escreveu.
Ela afirma que a morte do pai encerra um ciclo, mas também provoca uma reflexão profunda sobre responsabilidade, escolhas e evolução pessoal. “O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira”, disse.
No texto, Lili deixa claro que o sentimento não cabe em respostas simples, inclusive quando fala sobre o perdão. “Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser”, afirmou. Ao se despedir, desejou que o pai encontrasse cura e transformação. “Desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada.”
A coreógrafa encerra a mensagem destacando a importância de olhar para dentro, aceitar a própria vulnerabilidade e reconhecer a brevidade da vida. “Essa vida é uma passagem e o tempo é curto para não sermos verdadeiramente felizes”, escreveu.
Crime que marcou o país
Nascido em Rio Verde, no interior de Goiás, Lindomar Castilho foi um dos artistas mais populares da música brasileira nos anos 1970. Dono de um estilo romântico, exagerado e identificado com o chamado brega, tornou-se um dos maiores vendedores de discos do país.
Entre seus maiores sucessos está a canção “Você é doida demais”, que voltou a ganhar notoriedade nos anos 2000 ao ser usada como tema de abertura do seriado Os Normais.
A trajetória artística de Lindomar foi definitivamente interrompida por um dos feminicídios de maior repercussão da história brasileira. Em 30 de março de 1981, ele matou a então ex-mulher, a cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros. Ela tinha apenas 26 anos.
O casal havia sido casado por dois anos. Durante o relacionamento, Eliane se afastou temporariamente da carreira para cuidar da filha Lili. Após viver um relacionamento abusivo, decidiu pedir o divórcio.
Eliane foi assassinada no palco da boate Belle Époque, em São Paulo, enquanto se apresentava. No momento dos disparos, ela cantava a música “João e Maria”, de Chico Buarque.
Lindomar foi preso em flagrante e condenado a 12 anos de prisão. Por ser réu primário, respondeu parte do processo em liberdade. Cumpriu quase sete anos em regime fechado e o restante em regime semiaberto, deixando o sistema prisional em 1996.
O caso se tornou um marco na luta contra a violência doméstica no Brasil e impulsionou o movimento feminista, especialmente com o lema que ecoou à época: “Quem ama não mata”.