A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga a origem de uma série de disparos de laser contra aeronaves que se aproximam do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Somente neste ano, foram registrados mais de 40 incidentes. A prática, muitas vezes tratada como brincadeira por quem está em solo, é classificada como atentado contra a segurança de transporte aéreo e preocupa especialistas do setor.
Fernando Catalano, professor de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos (USP), alerta que o ato vai muito além de um simples incômodo e deve ser tratado como uma ação criminosa. Segundo o especialista, o risco é potencializado durante a aterrissagem, fase considerada a mais delicada do voo.
“Na decolagem, a cabine está apontada para cima, o que torna o contato visual mais difícil. Mas na aterrissagem, você tem muita distração e exige reflexo. Fica refletindo para todo lado dentro da cabine. É uma coisa bastante incômoda. Se não atrapalha a visão, atrapalha a atenção dele em uma operação extremamente delicada”, explica Catalano
O professor compara a situação a um motorista sendo ofuscado em uma estrada: “É como se você estivesse ultrapassando um carro e alguém jogasse um laser na sua cara. Você não sabe para onde está indo, fica cego por um momento. É muito sério”.
Perigo de drones e balões
Além dos lasers, o especialista chama a atenção para o uso irresponsável de drones e a soltura de balões próximos a zonas aeroportuárias. Muitas vezes, usuários de drones domésticos não compreendem que estão operando uma aeronave dentro de um espaço aéreo controlado.
“Quantas vezes o aeroporto ficou paralisado com drone voando? O sujeito quer filmar o aeroporto, acha que é uma brincadeira, mas é tudo tratado da mesma maneira: perigo”, afirma Catalano. Assim como no caso dos lasers, a legislação prevê punições severas para quem coloca a aviação em risco, dada a possibilidade de causar acidentes graves ou até fatais.
Penalidade
O Código Penal Brasileiro prevê que expor a perigo uma aeronave ou praticar ato que possa impedir ou dificultar a navegação aérea é crime, com pena que pode variar de dois a cinco anos de reclusão. Caso ocorra um acidente, a pena é aumentada. A polícia segue tentando identificar se os disparos em Porto Alegre são intencionais ou acidentais.
Insegurança na hora de voar
Apesar dos riscos externos causados por interferência humana, como lasers e drones, Catalano tranquiliza os passageiros sobre a segurança geral da aviação. Questionado sobre o medo de voar, o professor da USP afirma que o receio é muito mais “psicológico do que real”.
“É muito mais perigoso você sair de carro em São Paulo ou viajar em uma estrada no Brasil. A probabilidade de acontecer um acidente em uma rodovia é centenas de vezes maior do que com um avião”, pontua.
O professor destaca que a aviação é regida pela premissa de minimizar riscos ao máximo, motivo pelo qual regras como desligar celulares ou proibir o uso de eletrônicos em certas fases do voo são mantidas, mesmo que o risco de interferência seja mínimo.
“O que move a aviação, na verdade, não são os aviões, é a segurança deles”, finaliza o professor